Sean Connery, falecido em 31 de outubro aos 90 anos de idade, foi um dos maiores atores do século XX, com uma extensa filmografia repleta não apenas de blockbusters mas também de obras consagradas pela crítica especializadas. Mas além de bom ator, Connery tornou-se, graças a papéis como o de James Bond, símbolo de uma masculinidade vista como “retrógrada” e ameaçada pela ascenção da ginecocracia pós-moderna.
Escrito por Colin Liddell
Se eu tivesse conhecido pessoalmente Sean Connery, que faleceu no outro dia na idade avançada de 90 anos, a conversa poderia ter sido um pouco estranha, especialmente se tivéssemos abordado questões políticas.
Sean, sendo um milionário expatriado que apoiava o SNP [Partido Nacional Escocês] mas que permanecia fora da Escócia por razões fiscais, ao mesmo tempo em que propagandeava uísque japonês (!), teria fornecido alguns alvos suaves para uma ou duas gozações. Mas suas opiniões políticas – o esquerdismo hollywoodiano padrão apimentado com nacionalismo à-lá Coração Valente e uma suspeita de anglofobia feniana (ele era 25% irlandês, do lado de seu pai) – eram mera bagagem. O que Sean realmente representava era a meta-masculinidade combinada com a dura disciplina da pobreza juvenil, expressa em seus traços muito “escoceses” de contar moedas e de forçar barganhas que faziam os olhos de seus agentes sangrarem.
Icônico como Bond, uma espécie de fantasma colorido da defunta hegemonia britânica nos anos 60, ele também lutou corajosamente contra sua própria co-criação. De fato, mesmo enquanto ele estava no processo de construção do culto a Bond, ele assumiu outros papéis que ele acreditava que o livrariam de ser definido pelo papel.
É aqui que artigos e biografias “sérios” sobre ele gostam de estacionar e colocar seu centro de gravidade, detalhando como o aspirante a “ator sério” embarcou em “projetos sérios” com “diretores sérios” para se reformular como um “multi-ator”, e não apenas um clone de Bond.
Sim, sim, nós entendemos, mas filmes como The Hill [A Colina dos Homens Perdidos] (1965) e The Offence [Até os Deuses Erram] (1973), que ele fez com o “respeitado” diretor judeu-americano Sydney Lumet, ao mesmo tempo em que conseguiu que os “críticos sérios” se desmanchassem por ele, hoje em dia compõem uma visualização bastante enfadonha. De modo geral, eles parecem sobre-escritos e excessivamente elaborados, como de fato são, e quase femininos em seu sentimentalismo claustrofóbico – ou seja, escritos para o palco.
Em The Offence, por exemplo, ele interpreta o estereótipo psicológico de um detetive policial sexualmente reprimido levado à violência contra um suspeito de pedofilia por conta de suas próprias fantasias pedófilas. Tédio. Para os cinéfilos, a melhor das cinco colaborações entre Lumet e Connery é provavelmente o romance policial neo-noir humorístico The Anderson Tapes [O Golpe de John Anderson](1971).
Os seis filmes Bond que ele fez entre 1962 e 1971, por contraste, ainda parecem orgânicos e naturais, e continuam a ser extremamente agradáveis. Isto é sinal de um caso de casting perfeito, assim como de algo clássico no papel de Bond. Minha preferência pessoal dos seis, por razões inteiramente subjetivas, é You Only Live Twice [Com 007 Só Se Vive Duas Vezes](1968).
Em contraste com as “emoções cruas” bastante embaraçosas derramadas sobre a tela em suas colaborações com Lumet, o que obtemos com o Bond de Connery é uma mistura bastante crível de cinismo seco e estoicismo pétreo. A essência do homem é, naturalmente, manter uma superfície relativamente sólida, ao mesmo tempo em que tem muita reserva – e fortalecer suas emoções, mantendo-as acorrentadas.
Este é o sinal de “macho alfa” que Connery emanava tão fortemente em uma ampla freqüência através de uma cultura onde tais valores estavam, tal como o poder pós-imperial da Grã-Bretanha, rapidamente desaparecendo, e eram ainda mais valiosos por isso.
Assim como Bond era um fantasma do poder britânico, também Connery, como figura pública, se tornou cada vez mais um fantasma da masculinidade evanescente do homem ocidental, o que nos leva diretamente a seus famosos, ouso dizer “notórios”, comentários sobre violência contra as mulheres, que ele expressou em um raro momento despreocupado em uma entrevista para a Playboy em 1965:
“Acho que não há nada de particularmente errado em bater numa mulher – embora eu não recomende fazer isso da mesma forma que se bate num homem. Um tapa com a mão aberta pode ser justificado se todas as outras alternativas falharem”.
É claro que as feministas que apontam e cospem por tais comentários hoje são as mesmas que correram para comprar 50 Tons de Cinza quando chegou nas livrarias, o que é realmente tudo que precisamos saber sobre isso.
Este aspecto do homem é também aquele que torna Sean irrecuperável para as megeras estridentes e assexuadas, como Nicola Sturgeon, que agora dirige o outrora amado SNP de Sean. Assim, talvez Sean e eu tivéssemos nos dado bem, afinal de contas.
Tradução: Nova Resistência
Fonte: Sean Connery and the Ghost of Western Masculinity
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